sexta-feira, 26 de junho de 2015



Açúcar e adoçante: quando utilizar?

         Os adoçantes artificias, ou produtos alimentícios que contenham estas substâncias, são amplamente utilizados por apresentarem pouca ou nenhuma caloria1, especialmente em dietas com restrição de açúcar2.
         Entretanto, muitas controvérsias acercam o uso dos adoçantes artificiais e suas ações no organismo3. Evidências mostram que estes compostos atuam de forma negativa em algumas reações metabólicas, predispondo ao aumento no risco de algumas doenças, como diabetes tipo 2 e obesidade4-6.
         Como mecanismo, sabe-se que estas substâncias ativam receptores de sabor doce na língua e no intestino e com isso, observa-se o aumento na absorção de glicose e, consequentemente, no nível insulinêmico. Por este motivo, o uso crônico de adoçantes artificiais tem sido relacionado com o aumento na prevalência de diabetes (tipo 1 e 2) e resistência a insulina7,8..
Este mecanismo também está associado ao aumento no consumo alimentar e preferência pelo sabor doce, fatores relevantes na patogênese da obesidade 7,8.
         Em adição, um estudo experimental conduzido por Suez et al (2014)9 identificou que o uso crônico de adoçantes artificiais pode alterar a composição da microbiota intestinal, por induzir o aumento de populações bacterianas patogênicas, caracterizando o quadro de disbiose intestinal. Essa condição favorece diversas alterações metabólicas no hospedeiro, sendo inclusive correlacionada com desordens do metabolismo glicídico, como a intolerância a glicose e suas consequências 9,10.
         Assim, apesar de seu uso ser indicado para alguns pacientes que fazem restrição no consumo de açúcar, proporcionando melhor aceitação e facilitando a adesão ao plano alimentar11, é importante considerar sempre qual o tipo de adoçante que será utilizado, considerando sua composição e possíveis efeitos a saúde.  
         Com base nestes achados, o uso dos adoçantes deve ser avaliado de acordo com o quadro e sintomas apresentados pelo paciente. Em algumas situações, em que a quantidade de açúcar utilizado na rotina do paciente é pequena, o uso de outros tipos de açúcares não refinados (como o demerara e o mascavo) pode ser considerado, evitando assim, a exposição a estes aditivos artificiais, que carecem de estudos clínicos que comprovem suas reais atuações no organismo em longo prazo.

Referencias Bibliográficas
1.       GIL-CAMPOS, M.; SAN JOSÉ GONZALEZ, M.A.; DÍAZ MARTÍN, J.J. et al. Use of sugar and sweeteners in children´s diet. Recomendations of the Nutrition Committee of the Spanish Paediatric Association. An Pediatr; 2015.
2.       QURRAT-UL-AIN, KHAN, S.A. Artificial sweeteners: safe or unsafe? J Pak Med Assoc; 65(2):225-7,2015.
3.       BURKE, M.V.; SMALL, S.M. Physiological mechanisms by which non-nutritive sweeteners may impact body weight and metabolism.Physiol Behav; 2015.
4.       CHARRON, M.J.; VUGUIN, P.M. Lack of glucagon receptor signaling and its implications beyond glucose homeostasis.J Endocrinol; 224(3):R123-30,2015.
5.       STEVENS, A.; HAMEL, C.; SINGH, K. et al. Do sugar-sweetened beverages cause adverse health outocomes in children? A systematic review protocol.Syst Rev; 4 (3):96,2014.
6.       KUMAR, G.S.; PAN, L.; PARK, S. et al. Sugar-sweetened beverage consumption among adults—18 states, 2012. MMWR Morb Mortal WKLY Rep; 63(32):686-90,2014.
7.       EFEYAN, A.; COMB, W.C.; SABATINI, D.M. Nutrient sensing mechanisms and pathways. Nature; 517(7534):302-310,2015.
8.       HAMEL, C.; STEVENS, A.; SINGH, K. et al. Do sugar-sweetened beverages cause adverse health outcomes in adults? A systematic review protocol. Syst Rev; 3:108, 2014.
9.       SUEZ, J.; KOREM, T.; ZEEVI, D. et al. Artificial sweeteners induce glucose intolerance by altering the gut microbiota. Nature; 514(7521):181-6,2014.
10.   FEEHLY, T.; NAGLER, C.R. Health: the weight cost of non-caloric sweeteners. Nature; 514(7521):176-7, 2014.

11.   OLIVEIRA, P.B.; FRANCO, L.J. Consumo de adoçantes e produtos dietéticos por indivíduos com diabetes melito tipo 2, atendidos pelo sistema único de saúde em Ribeirão Preto, SP. Arq Bras Endocrinol Metab;54(5):455-462,2010.

Nenhum comentário:

Postar um comentário