A
relação entre nutrição e a atividade física é bem estabelecida, visto que o
aporte adequado de nutrientes contribui para que os objetivos do atleta sejam
alcançados, sendo o ganho de massa magra e recuperação muscular, um dos
critérios mais relatados como necessários para a evolução do atleta1.
A
literatura identifica que alguns aminoácidos (especialmente os de cadeia
ramificada), são importantes para esta finalidade. Destes, a leucina ganha
maior evidência, visto que em associação ao mecanismo de contração muscular, é
responsável por estimular a via anabólica PI3-K (fosfoinositol 3-kinase) que
por sua vez, medeia a cascata de sinais intracelulares que culminam em ativação
do complexo mTOR (proteína alvo da rapamicina em mamíferos) e tradução de
proteínas 2-5.
Adicionalmente,
a leucina atua na proteção e biogênese mitocondrial, por ativar a Sirtuina 1,
que acompanha a regulação da expressão gênica de PGC1- alfa(Coativador-1 alfa
do receptor ativado por proliferador do peroxissoma), um item chave para os
processos mitocondriais 6,7. Com base nisso, a leucina tem sido proposta para
otimizar vias metabólicas, como a oxidação de gorduras.
Na alimentação, a leucina e os outros
aminoácidos de cadeia ramificada são normalmente associados a fontes
alimentares de origem animal, como ovos e leite. Entretanto, estas proteínas
quando mal digeridas, geram reações imunológicas que podem estar relacionadas a
sintomas alérgicos e de hipersensibilidade8-10.
Com
base nisso, as proteínas de origem vegetal podem servir como alternativa, dado
que apresentam boa digestibilidade. Desta forma, são sugeridas como alternativa
aos que possuem restrições alimentares e aos vegetarianos8-10. Além disso,
estudos clínicos mostram que o perfil proteico das proteínas vegetais pode ser
considerado no âmbito da atividade física e na síntese proteica.
Em 2013, Joy et al11 conduziram um
estudo randomizado, com 24 indivíduos treinados, os quais foram submetidos a
suplementação de proteína isolada de arroz ou whey protein (proteína do soro do
leite) após o treino resistido, por 8 semanas. Por meio de ultrassonografia, os
autores identificaram resultado significativo na espessura dos músculos
analisados e na redução do percentual de gordura, com ambas as condutas. Os
autores atribuem este resultado a presença de leucina, que mostrou-se
equivalente nas duas intervenções.
Ainda, vale ressaltar que a proteína
isolada de arroz apresenta arginina em sua composição, importante precursor de
óxido nítrico. Por esta atuação, este aminoácido está envolvido em reações de
vasodilatação, que por consequência, facilitam o transporte e disponibilidade
de nutrientes para o tecido muscular11.
A proteína isolada de ervilha também é
relatada como opção interessante, por ser fonte de aminoácidos essenciais como
a leucina. Recentemente, Babaut et al (2015)12 mostrou em um estudo duplo cego,
randomizado e controlado por placebo, que o uso desta proteína associada ao
treino resistido, pode ser tão eficiente quanto o uso do whey protein isolado
para aumento no percentual de massa magra e força muscular.
Com relação à proteína isolada de soja,
sua atuação na área esportiva também é estabelecida. Neste ano, Mitchell et al
(2015)13 exibiram em idosos, que o uso desta proteína vegetal é capaz de
estimular a fosforilação da proteína p70S6K (proteína quinase ribossomal S6 da
70kDA) por até 2 horas após o exercício, mecanismo associado ao aumento da
síntese proteica.
Certamente, estes efeitos que acercam a
síntese proteica serão benéficos para a melhora da composição corporal do
atleta ou praticante de atividade física, bem como para o seu rendimento na
modalidade esportiva praticada.
No entanto, é necessário ressaltar que
os estudos clínicos com as proteínas vegetais ainda são escassos. Embora este
fator seja limitante para discussões mais precisas, devemos levar em consideração
os resultados promissores destes poucos estudos, que permitem a extrapolação
dos dados.
Por
fim, as proteínas vegetais, quando associadas a hábitos alimentares saudáveis,
podem auxiliar na diversificação dos hábitos alimentares e na melhora da monotonia
alimentar, principalmente em situações em que há restrições.
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