sexta-feira, 17 de julho de 2015





Polimorfismos genéticos, correlações clinicas e laboratoriais e modulação nutricional
Atualmente, as doenças inflamatórias e metabólicas lideram entre as mais prevalentes, sendo muitas vezes atribuídas à herança genética, que de fato exerce grande influência na evolução das patologias 1,2.
Em adição, vale ressaltar que os fatores ambientais em que estamos expostos constantemente, são determinantes para a morbidade das doenças, inclusive para a modulação genética3.
Desde o nosso desenvolvimento intrauterino, os fatores externos definem reações genéticas, que podem ser estendidas ao longo dos anos de vida4.  Como exemplo destes mecanismos, De Felice et al. (2015)5 mostraram em um estudo experimental, que a alta exposição a inseticidas organofosforados (amplamente utilizados na agropecuária), no período pré-natal, altera a expressão de genes fundamentais para o desenvolvimento neuromotor.  
         Allard et al. (2015)6 também enfatizam mecanismos epigenéticos no desenvolvimento fetal, ao demostrarem que interferências na homeostase glicídica na gestação (como a hiperglicemia), podem ser um fator de risco para obesidade no futuro. Como explicação, sugere-se que altos níveis glicêmicos modificam a expressão gênica da leptina, um hormônio importante que regula o balanço energético e apresenta-se alterado na obesidade.
         Na fase adulta, o efeito do estilo de vida sobre a genética também é relevante. Como uma amostra desta relação, Mozaffarian et al. (2015)7 identificaram que o consumo elevado de gordura trans pode predispor a uma séria de polimorfismos em genes importantes para o metabolismo lipídico, resultando em inflamação e aumento da adipogênse.
         A inflamação, por sua vez, exerce papel crucial na expressão genética de diversos compostos. Estudos mostram que produtos inflamatórios podem interferir na expressão do receptor de insulina (característico do quadro de resistência à insulina)8 e da enzima oxido nítrico sintetase9 (importante para a função endotelial), que em conjunto a obesidade e variações lipídicas, representam a síndrome metabólica10.
         Em contrapartida, bons hábitos de vida também modulam a expressão gênica de forma positiva. O consumo adequado de vitaminas e minerais, bem como de fitoquímicos e ácidos graxos insaturados, é frequentemente associado com proteção celular e expressão de compostos anti-inflamatórios 11.
         Para exemplificar o efeito da boa alimentação sobre o material genético, o zinco, mineral mais estudado nesta área, é descrito como essencial para a transdução de metalotioneínas, uma família de proteínas com propriedades antioxidantes e que estão relacionadas à redução da inflamação e senescência celular 12,13.
         Sobre os compostos bioativos, as antocianinas (presentes nas frutas vermelhas) são reconhecidas por suprimirem a expressão do PPRA-gama (receptor ativado por proliferadores de peroxissoma gama), o fator de transcrição mais evidente no processo de adipogênese13.
         Além da boa alimentação, a atividade física também deve ser considerada na área genética. Como um dos mecanismos, a atividade física induz o aumento da expressão de PGC 1 alfa (proteína co-ativador 1 alfa do receptor ativado por proliferador do peroxisoma), um fator essencial para biogênese mitocondrial que, por consequência, promove melhor condução da oxidação lipídica para o fornecimento de energia 14.
         Sabendo da importância dos fatores genéticos no desenvolvimento de doenças, o exame genético pode ser uma ferramenta interessante para identificar polimorfismos específicos e nos direcionar para o tratamento nutricional mais individualizado e efetivo.





Referências Bibliográficas
1-HOU, H.; WANG, C.; SUN, F. et al. Association of Interleukin-6 gene polymorphism with coronary artery disease: an update systematic review and cumulative meta-analysis. Inflamma Res; 2015
2- JIANG, Y.X.; LI, G.M.; YI, D. et al. A meta-analysis: the association between interleukin-17 pathway gene polymorphism and gastrointestinal diseases. Gene; 2015
3- SUDER, A.;JANUSZ, M.; JAGIELSKI, P. et al. Prevalence and risk factors of abdominal obesity in polish rural children. Homo; 2015.
4-TIMASHEVA, Y.; PUTKU, M.; KIVI, R. et al. Developmental programming of growth: genetic variant in GH2 gene encoding placental growth hormone contributes to adult height determination. Placenta; 34(11):995-1001,2013.
5- De FELICE, A.; SCATTONI, M.L.; RICCERI, L. et al. Prenatal exposure to a common organophosphate insecticide delays delays motor development in a mouse model of idiopathic autism. Plos One; 10(3):663, 2015.
6- ALLARD, C.; DESGAGNÉ, V.; PATENAUDE, J. et al. Mendelian randomization supports causality between maternal hyperglycemia and epigenetic regulation of leptin. Epigenetics; 10(4):342-51, 2015.
7- MOZAFFARIAN, D.; KABAGAMBE, E.K.; JOHSON, C.O. et al. Genetic loci associated with circulating phospholipid trans fatty acids: a meta-analysis of genome-wide association studies from the CHARGE Consortium. Am J Clin Nutr; 10(2):398-406, 2015.
8- PHYZAK, B.; WISNIEWSKA, A.; RYMKIEWIC- KLUCZYNSKA, B. The influence of polymorphism the Gly972Arg variant insulin receptor substrate-1 (IRS-1) gene, and G-308A TNF-alpha gene on obesity and insulin resistance in children with obesity. Endokrynol Diabetol Chor Przemiany Materii Wieku Rozw; 12(3):175-8,2006.
9- BURGHARDT, K.; GROVE, T.; ELLINGROD, V. Endothelial nitric oxide synthetase genetic variants, metabolic syndrome and endothelial function in schizophrenia. J Phychopharmacol; 28(4):349-56,2014.
10- ESTECHA-GONZÁLEZ, M.; BODAS-PINEDO, A.; GUILLÉN-PÉREZ, J.J. et al. Methylmercury exposure in the general population, toxic kinetics, differences by gender, nutritional and genetic factors. Nutr Hosp; 30(5):969-88, 2014.
11-KOURY, J.C.; DONANGELO, C.M. Zinco, estresse oxidative e atividade física. Rev. Nutr; 16(4):433-441,2003.
12-MOCCHEGIANI, E.; ZINCAGE, C. Zinc, metallothioneins, longevity: effect of zinc supplementation on antioxidante response: a zincage study. Rejuvenation Res; 11(2):419-23,2008.

13- KIM, H.K.; KIM, J.N.; HAN, S.N. et al. Black soybean anthocyanins inhibit adipocyte differentiation in 3R3-L1 cells. Nutr Res; 32(10):770-7,2012.

14- WEN, X.; WU, J.; CHANG, J.S. et al. Effects of exercise intensity on isoform-specific expressions of NT-PGC-1 alfa mRNA in mouse skeletal muscle. Biomed Res Int; 2014.

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