terça-feira, 7 de julho de 2015





         O uso de fitoterápicos data de muitos anos. Há séculos, as plantas são utilizadas para o tratamento e prevenção de diversas doenças, fato que justifica o grande interesse por pesquisadores, que visam fundamentar seus potenciais benefícios à saúde1.
         Nossa biodiversidade de plantas é vasta, e algumas espécies carecem de estudos que comprovem segurança e eficácia em determinadas condições. Assim, muitos fitoterápicos são utilizados de forma popular, na ausência de conhecimento dos possíveis efeitos nocivos, adequação de dosagem, tempo de uso, entre outros fatores que são determinantes para o sucesso da conduta2,3.
         Com base nisso, devemos nos atentar em nossas condutas fitoterápicas, que sempre devem ser baseadas em legislações (como a Resolução CFN n°525/20134) e estudos clínicos de longo prazo, que assegurem o uso da planta.
         No âmbito do esporte, em que o uso de fitoterápicos está associado ao aumento do rendimento e melhora da composição corporal, estes critérios também são válidos e, certamente, influenciam no resultado esperado 5,6.
         Como exemplo, o Tribulus terrestris, que é amplamente utilizado por atletas (e muitas vezes sem a devida orientação), por suas possíveis interações na síntese de testosterona, apresenta literatura escassa sobre suas reais ações no organismo 7,8.
 Um estudo clínico realizado por Antonio et al (2000)9 identificou que o uso desta planta, com dosagem equivalente a 3,21 mg por quilo de peso por 8 semanas, não foi eficaz em melhorar a composição corporal e rendimento em 15 indivíduos treinados em exercício de resistência.
Rogerson et al (2007)10 corroboram com este achado. Os autores, que estudaram a ação do Tribulus terrestris em atletas de rugby, mostraram que a administração diária de 450 mg por 5 semanas, não promoveu alterações significativas nas concentrações de testosterona e, por consequência, não observaram melhora significativa no rendimento e composição corporal. Desta forma, faltam estudos que respaldem a efetividade deste uso na prática esportiva.
 Em contrapartida, devemos considerar os fitoterápicos que comprovadamente apresentam benefícios no esporte, como o Panax ginseng, que atualmente é uma das plantas mais estudadas em diversas condições11.
Em 2011, Jung et al12 associaram o uso de 20 gramas de extrato de  Panax ginseng, com a redução de marcadores de dano muscular e inflamação (como a creatina kinase e interleucina-6), em 18 indivíduos submetidos a corrida de alta intensidade por 45 minutos, sendo este resultado justificado pela ação adaptógena desta planta.
A Rhodiola rosea é outro fitoterápico adaptógeno que tem sido sugerido no meio esportivo. De forma experimental, a Rhodiola rosea parece aumentar a expressão gênica da proteína de choque térmico 72 (HSP72) que, por sua vez, interfere na resistência ao estresse causado pelo exercício. No entanto, poucos estudos clínicos mostram efeitos significativos com este uso, quando acompanhado a prática de atividade física13.
         Com base no exposto, é imprescindível o conhecimento científico que acerca a segurança e efetividade dos fitoterápicos na área esportiva, uma vez que o uso adequado poderá favorecer os resultados esperados, bem como o uso indiscriminado, poderá prejudicar o atleta.  







Referências Bibliográficas
1.KUJAWASKA, M.; de SANTAYANA, M.P. Management of medicianally useful plants by European migrants in South America. J Ethnopharmacol; 2015.
2. CARVALHO, A.C.B.; BALBINO, E.E.; MACIEL, A. et al. Situação do registro de medicamentos fitoterápicos no Brasil. Revista Brasileira de Farmacognosia; 18(2):314-319,2008.
3. BADKE, M.R.; BUDO, M.de L. D.; ALVIM, N.P.T. et al. Saberes e práticas populares de cuidado em saúde com o uso de plantas medicinais. Texto Contexto Enferm; 21(2):363-70,2012.
4.  CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS (CFN). Resolução n°525/2013 de 19 de maio de 2013. Regulamenta a prática da fitoterapia pelo nutricionista, atribuindo-lhe competência para, nas modalidades que especifica, prescrever plantas medicinais, drogas vegetais e fitoterápicos como complemento da prescrição dietética e, dá outras providências. Disponível em: http:// www.cfn.org.br
5- AMICO, A.P.; TERLIZZI, A.; DAMIANI, S. Immunopharmacology of the main herbal supplements: a review. Endocri Metab Immune Disord Drug targets; 13(4):283-8,2013.
6- SENCHINA, D.S.; HALLAM, J.E.; KOHUT, M.L. et al. Alkaloids and athete immune function: caffeine, theophylline, gingerol, ephedrine, and their congeners. Exerc Immunol Rev; 20:68-93,2014.
7- KONCIC, M.Z.; TOMCZYK, M. New insight into dietary supplements used in sport: active substances, pharmacological and side effects. Curr Drug Targets; 14(9):1079-92,2013.
8- MEGNA, M.; AMICO, A.P.; CRISTELLA, G. et al. Effects of herbal supplements on the immune system in relation to exercise. Int J Immunopathol Pharmacol; 25(Suppl 1):43S-49S,2012.
9- ANTONIO, J.; UELMEN, J.; RODRIGUEZ, R. et al. The effects of Tribulus terrestris on body composition and exercise performance in resistance-trained males. Int J Sport Nutr Exerc Metab; 10(2):208-15,2000.
10- ROGERSON, S.; RICHES, C.J.; JENNINGS, C. et al. The effect of five weeks of Tribulus terrestris supplementation on muscle strength and body composition  during preseason training in elite rugby league player. J Strenght Cond Res; 21(2):348-53,2007.
11-CHOI, J.; KIM, T.H.; CHOI, T.Y. et al. Ginseng for health care: a systematic review of randomized controlled trials in Korean literature. Plos one; 8(4):978,2013.
12- JUNG, H.L.; KWAK, H.E.; KIM, S.S. et al. Effects of Panax ginseng supplementation on muscle damage and inflammation after uphill treadmill running in humans. Am J Chin Med; 39(3):441-50,2011.

13- ASEA, A.; KAUR, P.; PANOSSIAN, A. et al. Evaluation of molecular chaperons Hsp72 and neuropeptide Y as characteristic markers of adaptogenic activity of plants extracts. Phytomedicine; 20(14):1323-9,2013.

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