O
uso de fitoterápicos data de muitos anos. Há séculos, as plantas são utilizadas
para o tratamento e prevenção de diversas doenças, fato que justifica o grande
interesse por pesquisadores, que visam fundamentar seus potenciais benefícios à
saúde1.
Nossa
biodiversidade de plantas é vasta, e algumas espécies carecem de estudos que
comprovem segurança e eficácia em determinadas condições. Assim, muitos
fitoterápicos são utilizados de forma popular, na ausência de conhecimento dos
possíveis efeitos nocivos, adequação de dosagem, tempo de uso, entre outros
fatores que são determinantes para o sucesso da conduta2,3.
Com
base nisso, devemos nos atentar em nossas condutas fitoterápicas, que sempre devem
ser baseadas em legislações (como a Resolução CFN n°525/20134) e estudos
clínicos de longo prazo, que assegurem o uso da planta.
No
âmbito do esporte, em que o uso de fitoterápicos está associado ao aumento do
rendimento e melhora da composição corporal, estes critérios também são válidos
e, certamente, influenciam no resultado esperado 5,6.
Como
exemplo, o Tribulus terrestris, que é amplamente utilizado por atletas (e
muitas vezes sem a devida orientação), por suas possíveis interações na síntese
de testosterona, apresenta literatura escassa sobre suas reais ações no
organismo 7,8.
Um estudo clínico realizado por Antonio et al
(2000)9 identificou que o uso desta planta, com dosagem equivalente a 3,21 mg
por quilo de peso por 8 semanas, não foi eficaz em melhorar a composição
corporal e rendimento em 15 indivíduos treinados em exercício de resistência.
Rogerson et al (2007)10 corroboram com
este achado. Os autores, que estudaram a ação do Tribulus terrestris em atletas
de rugby, mostraram que a administração diária de 450 mg por 5 semanas, não promoveu
alterações significativas nas concentrações de testosterona e, por
consequência, não observaram melhora significativa no rendimento e composição
corporal. Desta forma, faltam estudos que respaldem a efetividade deste uso na
prática esportiva.
Em
contrapartida, devemos considerar os fitoterápicos que comprovadamente
apresentam benefícios no esporte, como o Panax ginseng, que atualmente é uma
das plantas mais estudadas em diversas condições11.
Em 2011, Jung et al12 associaram o uso
de 20 gramas de extrato de Panax ginseng,
com a redução de marcadores de dano muscular e inflamação (como a creatina kinase
e interleucina-6), em 18 indivíduos submetidos a corrida de alta intensidade
por 45 minutos, sendo este resultado justificado pela ação adaptógena desta
planta.
A Rhodiola rosea é outro fitoterápico
adaptógeno que tem sido sugerido no meio esportivo. De forma experimental, a Rhodiola
rosea parece aumentar a expressão gênica da proteína de choque térmico 72
(HSP72) que, por sua vez, interfere na resistência ao estresse causado pelo
exercício. No entanto, poucos estudos clínicos mostram efeitos significativos
com este uso, quando acompanhado a prática de atividade física13.
Com
base no exposto, é imprescindível o conhecimento científico que acerca a
segurança e efetividade dos fitoterápicos na área esportiva, uma vez que o uso
adequado poderá favorecer os resultados esperados, bem como o uso
indiscriminado, poderá prejudicar o atleta.
Referências Bibliográficas
1.KUJAWASKA, M.; de SANTAYANA, M.P.
Management of medicianally useful plants by European migrants in South America.
J Ethnopharmacol; 2015.
2. CARVALHO, A.C.B.; BALBINO, E.E.;
MACIEL, A. et al. Situação do registro de medicamentos fitoterápicos no Brasil.
Revista Brasileira de Farmacognosia; 18(2):314-319,2008.
3. BADKE, M.R.; BUDO, M.de L. D.;
ALVIM, N.P.T. et al. Saberes e práticas populares de cuidado em saúde com o uso
de plantas medicinais. Texto Contexto Enferm; 21(2):363-70,2012.
4. CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS (CFN).
Resolução n°525/2013 de 19 de maio de 2013. Regulamenta a prática da
fitoterapia pelo nutricionista, atribuindo-lhe competência para, nas
modalidades que especifica, prescrever plantas medicinais, drogas vegetais e
fitoterápicos como complemento da prescrição dietética e, dá outras
providências. Disponível em: http:// www.cfn.org.br
5- AMICO, A.P.; TERLIZZI, A.; DAMIANI,
S. Immunopharmacology of the main herbal supplements: a review. Endocri Metab
Immune Disord Drug targets; 13(4):283-8,2013.
6- SENCHINA, D.S.; HALLAM, J.E.; KOHUT,
M.L. et al. Alkaloids and athete immune function: caffeine,
theophylline, gingerol, ephedrine, and their congeners. Exerc Immunol Rev; 20:68-93,2014.
7- KONCIC, M.Z.; TOMCZYK, M. New
insight into dietary supplements used in sport: active substances, pharmacological
and side effects. Curr Drug Targets; 14(9):1079-92,2013.
8- MEGNA, M.;
AMICO, A.P.; CRISTELLA, G. et al. Effects of herbal supplements on the immune
system in relation to exercise. Int J Immunopathol Pharmacol; 25(Suppl
1):43S-49S,2012.
9- ANTONIO, J.;
UELMEN, J.; RODRIGUEZ, R. et al. The effects of Tribulus terrestris on body
composition and exercise performance in resistance-trained males. Int J Sport Nutr Exerc Metab;
10(2):208-15,2000.
10- ROGERSON, S.; RICHES, C.J.;
JENNINGS, C. et al. The effect of five weeks of Tribulus terrestris
supplementation on muscle strength and body composition during preseason training in elite rugby
league player. J Strenght Cond Res; 21(2):348-53,2007.
11-CHOI, J.; KIM, T.H.; CHOI, T.Y. et
al. Ginseng for health care: a systematic review of
randomized controlled trials in Korean literature. Plos one; 8(4):978,2013.
12- JUNG, H.L.; KWAK, H.E.; KIM, S.S.
et al. Effects of Panax ginseng supplementation on muscle
damage and inflammation after uphill treadmill running in humans. Am J Chin Med;
39(3):441-50,2011.
13- ASEA, A.; KAUR, P.; PANOSSIAN, A.
et al. Evaluation of molecular chaperons Hsp72 and
neuropeptide Y as characteristic markers of adaptogenic activity of plants
extracts. Phytomedicine; 20(14):1323-9,2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário