sexta-feira, 3 de julho de 2015






         A relação entre nutrição e a atividade física é bem estabelecida, visto que o aporte adequado de nutrientes contribui para que os objetivos do atleta sejam alcançados, sendo o ganho de massa magra e recuperação muscular, um dos critérios mais relatados como necessários para a evolução do atleta1.
         A literatura identifica que alguns aminoácidos (especialmente os de cadeia ramificada), são importantes para esta finalidade. Destes, a leucina ganha maior evidência, visto que em associação ao mecanismo de contração muscular, é responsável por estimular a via anabólica PI3-K (fosfoinositol 3-kinase) que por sua vez, medeia a cascata de sinais intracelulares que culminam em ativação do complexo mTOR (proteína alvo da rapamicina em mamíferos) e tradução de proteínas 2-5.
         Adicionalmente, a leucina atua na proteção e biogênese mitocondrial, por ativar a Sirtuina 1, que acompanha a regulação da expressão gênica de PGC1- alfa(Coativador-1 alfa do receptor ativado por proliferador do peroxissoma), um item chave para os processos mitocondriais 6,7. Com base nisso, a leucina tem sido proposta para otimizar vias metabólicas, como a oxidação de gorduras.
Na alimentação, a leucina e os outros aminoácidos de cadeia ramificada são normalmente associados a fontes alimentares de origem animal, como ovos e leite. Entretanto, estas proteínas quando mal digeridas, geram reações imunológicas que podem estar relacionadas a sintomas alérgicos e de hipersensibilidade8-10.
         Com base nisso, as proteínas de origem vegetal podem servir como alternativa, dado que apresentam boa digestibilidade. Desta forma, são sugeridas como alternativa aos que possuem restrições alimentares e aos vegetarianos8-10. Além disso, estudos clínicos mostram que o perfil proteico das proteínas vegetais pode ser considerado no âmbito da atividade física e na síntese proteica.
Em 2013, Joy et al11 conduziram um estudo randomizado, com 24 indivíduos treinados, os quais foram submetidos a suplementação de proteína isolada de arroz ou whey protein (proteína do soro do leite) após o treino resistido, por 8 semanas. Por meio de ultrassonografia, os autores identificaram resultado significativo na espessura dos músculos analisados e na redução do percentual de gordura, com ambas as condutas. Os autores atribuem este resultado a presença de leucina, que mostrou-se equivalente nas duas intervenções.
Ainda, vale ressaltar que a proteína isolada de arroz apresenta arginina em sua composição, importante precursor de óxido nítrico. Por esta atuação, este aminoácido está envolvido em reações de vasodilatação, que por consequência, facilitam o transporte e disponibilidade de nutrientes para o tecido muscular11.
A proteína isolada de ervilha também é relatada como opção interessante, por ser fonte de aminoácidos essenciais como a leucina. Recentemente, Babaut et al (2015)12 mostrou em um estudo duplo cego, randomizado e controlado por placebo, que o uso desta proteína associada ao treino resistido, pode ser tão eficiente quanto o uso do whey protein isolado para aumento no percentual de massa magra e força muscular.
Com relação à proteína isolada de soja, sua atuação na área esportiva também é estabelecida. Neste ano, Mitchell et al (2015)13 exibiram em idosos, que o uso desta proteína vegetal é capaz de estimular a fosforilação da proteína p70S6K (proteína quinase ribossomal S6 da 70kDA) por até 2 horas após o exercício, mecanismo associado ao aumento da síntese proteica.
Certamente, estes efeitos que acercam a síntese proteica serão benéficos para a melhora da composição corporal do atleta ou praticante de atividade física, bem como para o seu rendimento na modalidade esportiva praticada.
No entanto, é necessário ressaltar que os estudos clínicos com as proteínas vegetais ainda são escassos. Embora este fator seja limitante para discussões mais precisas, devemos levar em consideração os resultados promissores destes poucos estudos, que permitem a extrapolação dos dados.
         Por fim, as proteínas vegetais, quando associadas a hábitos alimentares saudáveis, podem auxiliar na diversificação dos hábitos alimentares e na melhora da monotonia alimentar, principalmente em situações em que há restrições.

Referências Bibliográficas

1.PINGITORE, A.; LIMA, G.P.; MASTORCI, F. et al. Exercise and oxidative stress: potential effects of antioxidant dietary strategies in sports. Nutrition; 31(7-8):916-922, 2015.
2. SHIMOMURA, Y.; MURAKAMI, T.; NAKAI, N. et al. Exercise promotes BCAA catabolism: effects of BCAA supplementation on skeletal muscle during exercise. J Nutr; 134 (6 Suppl): 1583S- 1587S, 2004.
3. GAO, X.; FENG, T.; WANG, X. Leucine supplementation improves acquired growth hormones resistance in rats with protein-energy malnutrition. Plos one; 10(4):e0125023;2015.
4. JEWELL, J.L.; KIM, Y.C.; RUSSELL, R.C. et al. Differential regulation of mTORC1 by leucine and glutamine. Science; 347(6218):194-198, 2015.
5. DOBB, K.M.; TEE, A.R. Leucine and mTORC1: a complex relationship. Am J Physiol Endocrinol Metab; 302(11):e1329-42, 2012.
6-LIANG, C.; CURRY, B.J.; BROWN, P.L. et al. Leucine modulates mitochondrial biogenesis and SIRT1-AMPK signaling in C2C12 myotubes. J Nutr Metab; 2014.
7- LIANG, H.; WARD, W.F. PGC-1alfa: a key regulator of energy metabolism. Advances in physiology education; 30(4):145-151,2006. . PEREIRA, P.C. Milk nutritional composition and its role in human health. Nutrition; 30(6):619-27,2014.
8. HAN, S.W.; CHEE, K.M.; CHO, S.J. Nutritional quality of rice bran protein in comparison to animal and vegetable protein. Food Chem; 2015.
9. CRAIG, W.J. Nutrition concerns and health effects of vegetarian diets. Nutr Clin Pract; 25(6):613-20,2010.
10- PILIS, W.; STEC, K.; ZYCH, M. et al. Health benefits and risk associated with adopting a vegetarian diet. Rocz Panstw Zekl Hig; 65(1):9-14,2014.
11- JOY, J.M.; LOWERY, R.P.; WILSON, J.M. et al. The effect of 8 weeks of whey or rice protein supplementation on body composition and exercise performance. Nutrition Journal; 12:86,2013.
12- BABAULT, N.; PAÏZIS, C.; DELEY, G. et al. Pea proteins oral supplementation promotes muscle thickness gains during resistance training: a double-blind, randomized, placebo-controlled clinical trial vs. whey protein. Journal of the International Society of Sport Nutrition; 12:3, 2015.
13- MITCHELL, C.J.; DELLA GATTA, P.A.; PETERSEN, A.C. et al. Soy protein ingestion results in less prolonged p70S6 kinase phosphorylation compared to whey protein after resistance exercise in older men. J Int Soc Sports Nutr; 12:6,2015.




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